Da leveza
O leve invadiu nossa rotina e transformou nosso imaginário, tornando-se um valor e um ideal. Na sociedade pós-moderna, o elogio à magreza e a consagração do bem-estar triunfam. O mundo virtual, os dispositivos móveis, os nanomateriais estão mudando nosso dia a dia. Do mesmo modo, a cultura midiática, a arte, o design, a moda e a arquitetura exprimem o culto contemporâneo à leveza. Por todos os lados, a ordem é conectar, miniaturizar, desmaterializar.
Na contramão dessa tendência, contudo, a vida cotidiana parece cada vez mais pesada e difícil de suportar; ironicamente, é essa leveza que alimenta a sensação de peso. Os imperativos de uma vida mais leve – dietas, desintoxicações, desaceleração, alívio do estresse, busca do zen – vêm acompanhados por demandas exigentes, com efeitos exaustivos e desgastantes, por vezes deprimentes. Às utopias do desejo sucederam as expectativas de leveza do corpo e do espírito, de uma vida cotidiana menos estressante, de um presente menos pesado de carregar: viver melhor não se separa mais da leveza de ser.